segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Amigos do J&B - Natal 19 e 20 Nov 16                                        by Gico          

Trampolim da Vitória ou do Empate 

Além dos ares desérticos que combinam com a eterna homenagem ao nascimento de Jesus, Natal tem outras características que em nada lembram a paz e a harmonia celebrada pela maior festa da cristandade, período em que amigos judeus e muçulmanos fazem a festa no nosso Saara, na Rua da Alfândega e adjacências. 

Lá, a semelhança reside nas temperaturas de Oriente Médio, mas, felizmente, não no característico clima bélico reinante. A única guerra sem fim é a de preços por uma boa oferta à madame ou uma irresistível pechincha ao cavalheiro, coisa para rei mago nenhum botar defeito. 

Sim, privilegiada geograficamente em relação ao objetivo maior, dotada de todas as condições topográficas e políticas, Natal mostrou-se uma cidade importantíssima para a vitória dos Aliados na Segunda Grande Guerra. Uma vez escolhida para centralizar o abastecimento dos aviões norte-americanos, revelou possuir as condições fundamentais em termos militares pela proximidade com a África. Constituiu-se, portanto, a escala obrigatória para o aniquilamento das forças do Eixo.

O acordo celebrado entre os presidentes Roosevelt e Getúlio, que proporcionou o codinome Trampolim da Vitória à capital potiguar, evidentemente seria outro caso o eterno estadista do Clube dos Trinta, Benício Frazão, tivesse participado das negociações em prol da logística necessária à Força Aérea dos Estados Unidos. Apostaria em Trampolim do Empate ao final das estratégicas tratativas de cúpula.  

Pois já viajando no tempo e desembarcando no presente, ou aterrissando em pistas do recentíssimo passado, Natal, graças aos esforços de Gerson e Rita, foi novamente alvo de uma vitoriosa operação de guerra comandada à distância pela presidência e seu estado-maior, Rudimar, aliás bem maior. E com o assessoramento técnico inestimável do ordenança Monir, que desvendaria em poucas horas um caso de sabotagem ao encontro semestral por parte de um fornecedor inescrupuloso, interessado em atravessar uma bola murcha em meio  uma partida perfeita. Como se já não tivéssemos a nossa própria produção de similares de todos os tamanhos. 

Concentrada no Ocean Palace, a delegação aguardaria as batalhas do Nordeste, rivalidades que prometiam embates sangrentos. A preliminar seria disputada entre ABC e América. A seguir, com o inclemente sol a pino, a renhida contenda de fundo, Fortaleza versus Ceará. Entretanto, houve dissidência já na própria concentração dos atletas, o que lançava uma Ponta Negra nas hostes da concórdia.  
   
Comprovando a conveniência da medida, porém revelando a ansiedade do grupo, o ônibus partiu em horário anterior ao britânico, exatamente 2 minutos antes daquele determinado pelo observatório de Greenwich, fato que proporcionaria uma única ausência entre os jogadores escalados. 

Este que vos escreve estava no horário, com 1 minuto de tolerância no local de partida a ser eventualmente desperdiçado, quando se dá conta de que se esqueceu de tomar o seu remédio para o diabetes tipo 2. Tipo 2 minutos depois, retorna para o ponto de encontro, não sem antes ser obrigado a perder tempo com telefonemas indevidos de Jorge Bastos, o Jorge Luiz de foro privilegiado que não é Esporão, Orelha e muito menos Cachorra. 

Uniformizado com a cor própria para enfrentar o deserto de Pium, no original ianque P 1, pretinho básico proibido até aos nômades beduínos do gênero masculino, embarquei com os níveis de insulina em ordem sob apupos indevidos dos presentes que, por linhas tortas, fizeram o ônibus retornar aos eixos e aos meridianos corretos.

Nem Rommel, conhecido com a Raposa do Deserto, teria tido a astúcia de reunir os contingentes em duas equipes camufladas entre si para confundir a tropa. Uma confusão total para artilharias e defesas. Caos cromático para aqueles que, se não daltônicos, mais prejudicados quando o verde é a cor encarnada, sofrem de discromatopsia aguda. Estes não distinguem os comprimentos de onda próximos, comprováveis pelo teste das bolinhas, e muito menos o branco das costas de determinado uniforme do branco total. Em suma, uma miscelânea em campo para o grande teste da bola.

Talvez influenciadas pelas recentes apresentações de Cabral e Garotinho, que saiu na maca por simulação, o jogo foi marcado pela ausência quase generalizada do público feminino, que preferiu visitar o presídio. Com belas exceções presentes ao estádio da Caixa, várias caras-metades partiram em busca de jogos americanos e redes artesanais. Perderam o momento de fé comandado pelo pastor Josafá, religioso ecumênico que puxou a preleção de nosso senhor pelo Pai Nosso no centro de campo.

Iniciado o jogo, Barrão logo mostrou que honraria as luvas de Muralha. Foi vencido apenas por um bem colocado balaço de Teo, tenente em meio aos generais de pijama, mais velho apenas que Renato 30 horas, que se concentrou na Malásia, decerto de olho nos traiçoeiros japoneses que bombardearam Pearl Harbour, provocando Roosevelt e abrindo a campanha no Pacífico. 
O tiro passou por cima das microdunas escondidas pelo gramado castigado pela seca, onde só sobrevive o mandacaru. A topografia local é típica da Formação Barreiras que aflora em falésia próxima à Praia do Cotovelo, onde mora a família de nosso anfitrião e lateral direito Gerson, que jamais deu boas-vindas, aqui sem conotações ideológicas, a quem se aventurava pela esquerda.  
Por falar de formação e barreiras, Barreira do Inferno é o nome da base aérea local, nome que inspirou os heróis que, voluntários, perfilaram na defesa de seu último reduto frente ao canhão de Rudimar. 

Este que vos escreve foi a vítima do petardo na cabeça do esporão. Felizmente a cabeça do meu calcanho, não a do Jorge, esta com notórios pavilhões auriculares, com consequências provavelmente fatais. Trata-se da razão da sequela, por sinal alvo de posterior chacota pisciana, stand up de muletas, sempre a mirar no riso fácil da bebida acumulada pela soldadesca. Altivo, conservo ainda hoje a manqueira como uma heroica medalha ao pé da panturrilha, reservando-me ao direito de desfilar ao largo das piadas de caserna que abalam o moral da tropa.

Voltando ao jogo, Jefinho, mesmo sem o equipamento adequado, à mercê das bolhas de sangue, enfrentando o solo subsaariano com os calos adquiridos na Zona da Mata, empatou mostrando a todos o seu inestimável senso de colocação; de quem, mesmo descalço, conhece como ninguém o caminho das pedras em direção ao gol adversário. 

Como Barrão seguia impedindo que eu desempenhasse o meu trabalho ao fazer muito bem o dele, saí no intervalo, já com o calcanhar latejando. Mas do banco escaldante, estufa sem plantas, porém saboreando uma Itaipava Pilsen, pude acompanhar todos os lances do segundo tempo entre os combinados nordestinos. 

Captado pelas lentes do fotógrafo e cinegrafista Jorge Bastos, não tardou para que a estética entrasse em campo no melhor estilo pisciano. Paradoxalmente, o peixinho de Sérgio Todo Duro conseguiu reunir toda plasticidade de um mergulho terreno. Salto no escuro, olhos fechados pelo vigor do multicontato entre bola e cartilagens do pavilhão nasal, STD logrou estabelecer no plano horizontal a jogada eternizada pelo craque Edilnei em tenros gramados trintenses, ao assinar obra inédita, que há de se tornar célebre pelo domínio por amortecimento contínuo, técnica que talvez só os mais notáveis pesquisadores do Cenpes possam traduzir em números.

Ainda em relação ao vigoroso zagueiro em questão, o empirismo atribuído à análise por repetições sucessivas demonstrou que o ombro esquerdo de Sérgio Todo Duro é o seu calcanhar de Aquiles. Sim, talvez o personagem grego da Guerra de Troia tenha esporão. Sérgio mostrou não ser duro na queda. É mole? 
   
Falando em calcanhar, Guiga nem teve de usar o seu para colocar o seu combinado à frente do placar. Entretanto, poucos minutos depois, Tatau, enfim unindo o vigor físico ao cérebro, e o órgão motor à ponta da chuteira, lograria deixar tudo como queria Benício. Achando que não haveria interferência externa do tira-teima, Josafá enfiou para as redes depois de ultrapassada a linha fatal. 

Em termos oficiais, o líder do Pai Nosso esqueceu o sétimo mandamento ao tirar o pão da boca do pobre fiel que, naturalmente, instruído pelo próprio pecador fariseu, perdoou a ofensa registrada na súmula mediante um agrado ao incorruptível juiz Mauro, Moro em aramaico.

Guiga, em genial passe de Reinaldo, que preferiu a humildade da assistência que a fácil glória do gol, selou o destino de artilheiro dos gols simples. Quando tudo parecia dirigido à vitória alvirrubroanil, eis que uma ou duas substituições recoloca ou recolocam o alvinegro em condições de disputa. Saíram à francesa Jorge e/ou Cachorra para a entrada de Agenor e Benício, o general do Empate. 

Em jogada começada por Nélson e trabalhada por Iodir, Alegria das defesas e Júbilo do ataque, Cláudio Graça teve a graça de empatar, graças a Deus, mas também graças ao milagre do relógio do Eterno.

No almoço, homenagens ao João, a quem não tive o prazer de conhecer, mas de quem gosto muito por observar religiosamente a propriedade transitiva. Se meus amigos gostavam muito do João e eu gosto muito dos amigos dele, então eu concordei com o gesto do Reinaldo - perdão, Monir!!! -, eleito melhor em campo pela cúpula fantasma que entregou à Alda a bola para o neto do João. Afinal, o Benjamim já não tem onde guardar o seu arsenal do bem.
Ide em paz e que Josafá os acompanhe. 

No hino. Amém.


Destaques                                                                    by Benicio


    Barrão depois da "dedada" fechou o gol!!!
    O Andrea Belotti está destoando!!!
    Jogar em casa facilitou para o Gerson!!
    Que dedicação essa do Renato!!!       
    Cláudio Graça o beque artilheiro!!!! Meu craque do jogo!!!!!
    STD que carrinho de nariz foi aquele!!!!! 
    Zoiudo é melhor descalço!!!!
    Gico, craque na bola, na escola e na escrita!!!!! Que resenha é essa!!!!!!
    Esse tal de Julius é diferenciado!!!! Nunca jogou bola e está em todas!!!! 
    Acho que está chegando o momento que teremos que pagar para a presença do Jorge Orelha e Josafá!!!!! Futebol zero, mas palco 10!!!!
    Rodolfo, e teve Houston!!!!!
    Nada de Eurocopa em Julho!!!!
    Agenor com essa chuteira você está acertando o gol!!!!
    Jose Augusto, vamos cuidar desse joelho!!!
    Carminatti, Flávio e Roberto Murilo, vamos pegar pilha!!!!
    Mauricio, kd vc????
    Demais ausentes, futebol e amizade são bons para o coração!!!!

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